sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Crônica 1

Depois de uma chuva torrencial que atingiu a cidade de São Paulo em cheio, ela pegou o metrô para ir para casa. O guarda-chuva molhado nas mãos e os fones de ouvido tocando Chopin - um piano para acalmar um pouco, não é verdade? A porta se fecha no Trianon-Masp e torna a se abrir na estação Brigadeiro. Sobem três pessoas. Dois segundos. Sobe um homem alto, cabelos cacheados (um castanho meio ruivo), forte, de bermuda e mochila nas costas, olhando para baixo. Ignorei. Olhei para o corredor. A música tranquilizante tinha terminado. Voltei o olhar para este homem. A porta do metrô se fechara. Então ele ergueu a cabeça - para mim - com aqueles olhos azuis. O tempo parou.
O tempo parou e não mais voltou a correr como antes, até agora. Redefini todos os meus conceitos, toda a minha tranquilidade se foi. Aqueles olhos azuis-claro profundos, perfurando a minha alma milhões de vezes. Tenho a certeza absoluta que ele saiu da tela de Michelangelo - o Monte Olimpo. Tenho certeza absoluta que ele saiu de lá. O tempo não voltou a ser como era antes. Desde que o encarei, longamente, perdi meu equilíbrio interior. Foi proposital? Foi bem depois que comecei a procurar artigos sobre paganismo na internet. Esse homem, esse...não sei  o que dizer.
Ele desceu na estação Alto do Ipiranga, ainda me encarando, como se eu fosse a única pessoa ali naquele subterrâneo. Subiu as escadas, as portas se fecharam e eu continuei onde estava. Totalmente perdida. Desci na próxima estação, e não posso evitar. Estou perdida até agora.

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